terça-feira, 4 de outubro de 2011

DOUTRINA DA ADOÇÃO



Filhos ou órfãos
Rm 8.14-17; Gl 3.26-4.7

Introdução: Uma das doutrinas mais grandiosas do Evangelho e também uma das mais facilmente esquecidas é a de nossa relação com Deus. A Bíblia nos diz que "fomos feitos filhos de Deus", mas facilmente nos esquecemos que somos filhos, e desenvolvemos uma mentalidade de órfão. Uma das razões para este desvio são as experiências nos nossos relacionamentos e na nossa história: Gente que já teve experiência de rejeição, tende a desenvolver um sentimento de orfandade, e encontra dificuldade para se sentir amado. Filho rejeitado pode perder o vínculo afetivo. Criança indesejada eventualmente tem dificuldade relacional.

O chamado que recebemos de Deus em Cristo Jesus é o chamado para sermos filhos. Várias vezes na Bíblia vemos a expressão "Deus nos adotou". A Bíblia diz que embora todos sejamos criaturas de Deus, nem todos são filhos de Deus (Jo 1.12). Ser filho é assumir a condição de uma família, com todos os direitos e deveres que ela tem. Infelizmente nossa alma facilmente desenvolve uma idéia de luto existencial, de abandono de Deus, de distanciamento do Pai.

Neste texto de Romanos, Paulo descreve as conseqüências em nossa alma:

1.    Quem não é filho, cria uma relação de escravidão"porque não recebestes o espírito de escravidão" (Rm 8.15). Paulo tenta trazer à mente do povo de Deus, que sua relação com Deus agora em Cristo, é totalmente diferenciada. Não mais escravos, mas filhos.
Embora vivendo com Deus, nem sempre o vemos como Pai. Muitas vezes se parece mais com alguém punitivo, que exige uma cota diária de tarefas a serem preenchidas, e que pode nos castigar e retirar alguns privilégios nossos se não fizermos exatamente o que ele espera. Esta mentalidade que se fundamenta na funcionalidade, contudo, não é a de um Pai com um filho, mas de um servo com seu senhor.

2.    Quem não é filho, vive numa insegurança marcante – Paulo usa a idéia de medo. "porque não recebestes o espírito de escravidão para viverdes, outra vez, atemorizados" (Rm 8.15). É bom grifar a palavra "atemorizados". Quem já passou por situações de ameaça e medo, sabe do que estou falando. A Bíblia fala que "no amor não existe medo; antes, o perfeito amor lança fora o medo. Ora, o medo produz tormento; logo, aquele que teme não é aperfeiçoado no amor" (1 Jo 4.18). Amor e medo, são exclusivos. Se nossa relação com Deus é fundamentada no medo, algo muito grave ronda nossa experiência com Deus. O medo produz tormento. Se este sentimento permeia nossa vida, isto revela nossa impossibilidade de crescermos em maturidade, já que quem teme não é aperfeiçoado no amor.

Se este texto descreve o que vai na alma do órfão, também aponta para os privilégios daquele que é e se sente filho:

1.    Filho participa dos direitos da família – Tenho convivido com algumas famílias que adotaram filhos. Uma unanimidade entre todos eles é que não existe diferença entre o adotado ou legitimo. Trata-se de algo relacional, não de algo uterino. Um dos casais dizia sempre ao seu filho adotado: "você nasceu no coração do papai e da mamãe". Paulo diz isto aqui neste texto: "se somos filhos, somos também herdeiros" (Rm 8.17). Herdeiro tem direitos, não vive à margem do processo familiar. É inserido no cotidiano e nos privilégios familiares.
Adoção é um ato de Deus, efetuado pela sua graça, pelo qual participamos de uma nova família espiritual, que não se define institucionalmente, mas pela maravilhosa operação do Espírito Santo. A Confissão de fé de Westminster diz: "Todos os que são justificados, em e por seu Filho Jesus Cristo, são feitos  participantes da graça da adoção da liberdade e do privilégio de ser filho de Deus e recebe o espírito de adoção"(Confissão de fé de Westminster, cap. XII).
Ser adotado traz vários privilégios. Por meio desta obra de Deus a nosso favor, recebemos o Espírito de adoção (Rm 8.15), isto é, uma nova mentalidade é colocada em nós, não mais de escravo, mas de filho. Este é o espírito de adoção. Podemos encontrar intimidade e aconchego, chamando o Deus Todo Poderoso de "Paizinho" (Abba Pai) (Rm 8.15; Gl 4.6). Por meio da adoção, nos é dado acesso direto à presença do Pai (Gl 4.7) e ainda recebemos herança na família de Deus (Rm 8.17). Além disto, João afirma que "Ainda não se manifestou o que havemos de ser" (1 Jo 3.2). Isto é, o que sabemos já é grandioso, mas existe muita coisa  maravilhosa que ainda não nos é dado conhecer.

2.    Filho desenvolve senso de família – Tem um senso de pertencer a uma estrutura doméstica. Percebe pai, mãe, filho. Certo amigo meu, na sua adolescência teve uma briga séria com sua irmã. Seu Pai, então, interfere no conflito e diz aos dois: "vocês precisam se reconciliar, porque vocês, mesmo que queiram, não poderão deixar de ser irmãos". Algumas perguntas fundamentais devem ser feitas: "tenho família? Percebo irmandade na minha existência? Encontro aconchego e ninho na minha vida?".
Pela adoção, os laços com a velha família são quebrados: somos resgatados da lei (Gl.4:5); da escravidão (Rm 8.15); das futilezas que cercavam a nossa vida (1 Pe 1.18); e da maldição familiar (Ex 20.5). Pela adoção, um novo ambiente familiar é estabelecido.

3.    Filho vivencia intimidade e liberdade – Uma das cenas mais marcantes na história do povo americano é aquela em que John Kennedy está despachando no salão oval da Casa Branca, e seu filho, John-John está brincando debaixo da mesa, ignorando que seu Pai é um dos homens mais importantes do mundo. Para aquela criança, seu pai não é estadista, nem presidente, nem chefe, ele é apenas pai. Sua relação com ele é simples assim.
Neste texto, Paulo afirma que por recebermos este espírito de adoção, podemos afirmar, "Aba, Pai" (Rm 8.15). O termo "Aba" não é hebraico, mas aramaico. Era uma forma carinhosa e intima de se referir ao pais, mas uma linguagem própria de crianças que estão começando a andar e a falar. É o equivalente ao nosso termo "paizinho". Esta visão de Pai era escandalosa para os judeus ortodoxos. Como é que podem chamar Deus de "paizinho"?
A fonte da adoção é o amor e a iniciativa do Pai - I Jo.3:1
           

Ser filho, também traz responsabilidades, duas delas são significativas


    1. A responsabilidade de viver no status de filho. Temos que viver como família de Deus. Por isto Jesus afirmou: "Sede perfeitos como perfeito é vosso Pai" (Mt 5.48). Somos convidados a viver este novo estilo de vida. "Como filhos da obediência não vos amoldeis às paixões que tínheis anteriormente" (1 Pe 1.14).
    2. Compromisso com o funcionamento da nova família -"Vivei de modo digno da vocação a que fostes chamados" (Ef  4.1)

Conclusão:
A Bíblia é bem clara que todas as pessoas são criação de Deus (Colossenses 1:16), mas que apenas aqueles nascidos de novo são filhos de Deus (João 1:12; João 11:52; Romanos 8:16; 1 João 3:1-10).

 Em Cristo,
Edmilson Santos

Nenhum comentário:

Postar um comentário